NÃO APENAS UMA LARVA COM ASAS

 

 

 

            Uma analogia da natureza fornece-nos uma intrigante perspectiva do nosso futuro.

            

            A esperança de todos os cristãos é viver novamente - e viver eternamente - através da ressurreição da morte, e tal acontece segundo a Bíblia, quando Jesus Cristo regressar.

             Mas tal facto levanta uma questão intrigante: sob que forma aparecerá Jesus Cristo ? Se alguma vez se questionou sobre o assunto, pode ter a certeza que não foi o único.

              De facto existe uma discussão sobre a questão "da forma" no Novo Testamento onde o apóstolo Paulo menciona isso na sua carta aos Coríntios.

               Nessa carta, após ter explicado que a morte de Cristo seria seguida de ressurreição para uma vida imortal, Paulo perguntou: Mas alguém pode questionar: Como é que os mortos se levantam ? Sob que forma eles reaparecem ?

                Se somos cristãos e acreditamos na ressurreição dos mortos, também acreditamos, pela fé, que com Deus todas as coisas são possíveis, e que embora morramos, viveremos de novo na ressurreição. Dei por mim a pensar na fascinante analogia da natureza, que nos ajudava a ver que com Deus todas as coisas são possíveis - os mortos podem viver outra vez. Estou a falar da maravilhosa metamorfose da natureza. A palavra pode simplesmente significar a alteração da forma. O que acontece na crisálida ?

                 Já alguma vez pensou numa borboleta como uma retroescavadora com asas ? Pense de novo. O que acontece dentro de uma crisálida é um mistério da natureza. Quando a larva comeu o suficiente e se encontra em lugar seguro começa a formar o seu casulo. Após isso vai moldando a sua pele exterior, mostrando uma nova capa muito mais grossa e forte. Nesta nova forma, não consegue comer, defecar, e normalmente fica imóvel. Para qualquer olhar a nu, parece morta. Mas está longe disso. Dentro do casulo, o milagre da transformação está prestes a acontecer.

                  A primeira coisa a acontecer é que a maior parte do corpo da larva morre. São libertadas enzimas que absorvem todo o tecido da larva, até que esse seja convertido numa orgânica e nutriente sopa. Tem a capacidade de se digerir para o exterior, processo que se chama a "histólise". No entanto, nem todos os tecidos são destruídos. Em determinados sítios do corpo do animal, existem colecções de células embrionárias, chamadas "focos imaginários"  ou "células

de histólise". Até ao momento não representaram nenhum papel significativo na vida do insecto.

Estas células desenvolvem-se cedo na vida da larva, mas ficam estacionárias, permanecendo inertes no corpo da mesma. Assim que a metamorfose acontece, estas células começam a crescer de novo.

A função destes "focos imaginários" é a supervisão da construção do novo corpo fora da sopa de sumos digestivos do anterior corpo já morto. Um irá tornar-se numa asa; outro nas pernas, e outros na antena e todos os órgãos de uma borboleta adulta. Desta maneira, fica assim criado todo o sistema interno da larva, os músculos, o sistema digestivo e até o coração e o sistema nervoso - está completamente reconstruída. O que emerge da crisálida não é só uma larva com asas. É uma nova criatura, que não se preocupa só em andar a rastejar ou em comer. Embora a transformação de se tornar uma borboleta a partir do corpo da larva seja algo inerente, a mudança não pode ocorrer sem que o antigo corpo morra. Após isso, e só nessa altura, o maravilhoso processo da metamorfose começa a desenrolar-se, até que uma completamente nova criatura

aparece do "túmulo".                                                                                                                                             

Nascida com as suas lindas asas, a borboleta pode desfrutar da vida de uma maneira que a larva nunca sonharia. Uma forma de vida a partir do corpo e natureza de uma larva, transformou-se numa outra nova forma de vida.

Agora, vou sugerir uma analogia exacta entre a metamorfose na natureza e a metamorfose da ressurreição que ocorrerá quando Cristo voltar novamente à nossa história em visível glória e poder. A larva e a transformada borboleta, são ambas criaturas físicas e mortais. Ambas morrem. Mas a metamorfose do regresso de Cristo ocorre porque Deus nos fornece um corpo espiritual transformado, não outro corpo físico e mortal que aparece de um outro já morto, como na metamorfose natural. Os mortos em Cristo serão chamados com os poderes de Deus e ser-lhes-ão atribuídos corpos. Esta será a mãe da metamorfose. No entanto a metamorfose natural é intrigante no sentido de nos permitir questionar o trabalho de Deus na ressurreição. A larva encontra uma nova vida como borboleta. Nós, seres humanos vivemos primeiro uma vida física e mortal. Depois morremos ficando a aguardar a vinda do Senhor, altura onde receberemos corpos espirituais.

Então, que género de corpos Deus nos irá fornecer na ressurreição ? Paulo respondeu a esta questão explicando o processo com a ajuda de outra analogia do mundo natural. O que crias não vem a ter vida a não ser que morra primeiro. Quando crias algo, não estás a plantar o corpo que recolherás, mas sim uma semente, talvez de trigo ou outra coisa qualquer.

Sim, essa é outra maravilha. Um campo de trigo a partir de umas sementes. Um carvalho nascido de um ramo de árvore. Uma minhoca dentro de um casulo, reaparece com uma forma diferente, com um corpo completamente diferente.

Paulo viu a analogia: "Enterra-se um corpo sem beleza, e ressuscita cheio de esplendor; enterra-se um corpo fraco, e ressuscita forte. Enterra-se um simples corpo humano, e aparece depois um corpo cheio de vida nova, dada pelo Espírito"(1 Coríntios 15:43-44). Os corpos alterados que teremos serão um "corpo espiritual". Paulo não disse que receberemos um corpo não material, um corpo de espírito, mas um corpo espiritual. Por isso, o que é que ele quis dizer ?

A palavra grega é "pneumatikos", como um pneu pneumático cheio de ar. Pneumatikos, espiritual, significa num termo genérico, existir de uma maneira correspondente ou apropriada ao Espírito. Isto não nos diz nada de específico sobre a criação dos corpos espirituais.

Um outro apóstolo, João também entendia que não havia resposta para explicar como os nossos corpos seriam aquando da ressurreição, excepto em termos gerais: "Caros amigos, nós somos filhos de Deus, e o que seremos depois ainda ninguém sabe. O que sabemos é que, quando Jesus aparecer, iremos gostar dele, porque o veremos como ele é"(1 João 3:2).

A nossa existência "espiritual" após a ressurreição será definitivamente diferente da nossa presente existência carnal. No entanto uma singular continuidade existirá dentro desta descontinuidade fundamental. Continuaremos a ser nós próprios "do outro lado" mas completamente regenerados na natureza num corpo imortal.

Por isso, o que é que os nossos corpos alterados pela metamorfose terão na altura o que não têm agora ? Paulo explica: "Ouçam, vou dar-vos a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos havemos de ser transformados. Isso acontecerá num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final. Quando ela se ouvir, os mortos ressuscitam para não mais morrerem, e nós seremos transformados"(1 Coríntios 15:51-52). Sim, os mortais serão

imortalizados. Continuidade, mas também fundamental descontinuidade. 

Os corpos da ressurreição serão intocáveis e imortais. Pensem nisso. Nenhuma das nossas fraquezas humanas existirá. Jamais estaremos cansados, ou com sede ou com fome. Jamais estaremos doentes ou com dores. Jamais sofreremos de angústias ou medos. Nunca pecaremos. Não morreremos. Paulo sabia o que era sofrer de privação e dores neste corpo mortal, que é a nossa herança. Ele ansiava descansar em paz, esperando a ressurreição. Agora sabemos que se a nossa tenda de argila for destruída, temos um edifício de Deus, uma casa eterna, não construída por mãos humanas. Por agora estamos numa tenda, amargurados e pesados, com a nossa habitação terrena. Por isso, suspiramos pelo momento em que havemos de estar dentro da nossa habitação do céu. Dentro dela, já não nos vamos sentir como despidos. Deus é que nos destinou   para estas coisas e nos deu o seu Espírito, como garantia.

O livro da Revelação exalta este tempo após a ressurreição, quando teremos novos corpos. Deus estará com eles e será o Deus deles. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos e já não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, porque a ordem das coisas será alterada. Deus presenteou-nos com um corpo espiritual e imortal, uma mente e um coração regenerados e aperfeiçoados através de Cristo e do Espírito Santo.

As escrituras testemunham que os nossos corpos mortais envelhecem e adoecem, tornam-se enfermos e sofrem dores, padecem e morrem. Também testemunham que na ressurreição receberemos um novo corpo que Deus nos dará com uma eterna e verdadeira alegria e liberdade.

A criação antecipa o dia em que nos juntaremos aos filhos de Deus em gloriosa liberdade longe da morte e do declínio. Porque sabemos que a criação nos acompanha desde os primórdios até aos dias de hoje. E mesmo nós, Cristãos, que temos o Espírito Santo connosco, ansiamos a glória  futura e ser também libertados da dor e do sofrimento. Nós também ansiamos pelo dia em que Deus nos dará plenos direitos como seus filhos, incluindo novos corpos como nos está prometido.

Um novo corpo para vivermos eternamente num mundo renascido, onde nada mais crescerá de novo errado. Esta é, sem dúvida, a mãe de todas as mudanças.                                                                                               

 

 

 

 

Original: Paul Kroll, 2007-12

Tradução: Manuel Morais, 2007-12-O7

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1.        Coríntios 15:35

2.        1 Coríntios 15:36-37

3.        1Coríntios 15:43-44

4.        1 João 3:2

5.        1 Coríntios 15:50-53

6.        2 Coríntios 5:1-4

7.        Revelação 21:3-4